
CONSTRUTIVISMO GESTUAL
Por
*Demétrius Cotta
Local: Sete Lagoas
Não é impunemente que esta exposição de Gladston Mansur se intitula “Construtivismo Gestual”, título poético trespassado - apetece dizer: rasgado - pelo quotidiano, pelo banal, onde conflui o pagamento diário de uma construção artesanal, onde o dia-a-dia se justifica e se metamorfoseia sob o peso desta metáfora que se inicia pelo acaso no gesto em busca de sentido existencial.
É evidente que Mansur faz, aqui, alusão à produção artística em duas dimensões: uma dimensão social (que implica a sobrevivência do artista, um homem entre outros homens) e uma dimensão estética (o papel da construção artesanal e intuitiva). E também não é impunemente que esta exposição se apóia erroneamente no substantivo masculino “construtivismo” como primeira colocação titular. Justifico minha observação pelo fato do artista buscar inicialmente no gestual sua gênese compositiva. Logo, um trocadilho de sintaxe somente perceptivel por quem se aproxima do artista em busca de participatividade.
O Construtivismo foi uma doutrina estética criada pelos russos Pevsner e Gabo, em 1920 e fundamentada em dois elementos essenciais: o espaço (parte integrante da obra) e o tempo e seus ritmos (estáticos, cinéticos e dinâmicos).
Segundo Pevsner, o volume da massa e do espaço são materiais diversos, concretos e mensuráveis.Construtivismo, em sentido geral, designa também, uma tendência geométrica, especialmente da arquitetura.
O sutil nas obras de Gladston fundamenta-se essencialmente na forte tendência que o artista ostenta em entrar na superfície e a moldar dentro dos preceitos expressionistas e surrealistas. Correntes essas que sobrepuja o olhar racionalista das correntes construtivas russas. Mesmo porque, o artista deliberadamente não possui nenhuma intenção aparente do que se deseja produzir. A forma externa remonta ao construtivo mas o pensar e agir; às duas tendências supra-citadas. Elas possuem o devaneio em não se deixar, inicialmente, dominar.
Ora , é justamente dentro da forma encontrada é que se dá o intuitivo o expressionismo abstrato, o lúdico.Como se houvesse no trabalho de Mansur uma luta entre dois paradigmas antropológicos: de um lado, o paradigma antropológico , do jogo, do irracional, do aleatório; do outro, o paradigma antropológico , do lógico e do construtivo, do racionalismo e do funcionalismo.
A obra de arte, é isso aí, o evocativo justamente dessa possibilidade de encontro, o encontro tornado possível.Temos em torno do trabalho de Gladston, todo um processo, necessariamente discursivo. Nesse sentido ele passa pela concepção e a metodologia psíquica do comportamento relativo às teorias da pregnância da forma pela óptica da gestalt. Acredito ser por aí o referencial bibliográfico adequado à compreensão do desenvolvimento do seu trabalho.
A Casa da Cultura, em Sete Lagoas, está de parabéns por abrigar tal exposição. A Casa cumpre seu real papel em lançar foco à renovação dos valores essenciais da arte visual (espaço-tempo, movimento e matéria) a cada vez que recebe uma mostra que indica rumos novos no plasmar a consciência crítica do cidadão. Assim sendo podemos livremente falar em qualidade quando ela se mostra.
Que a Casa continue assim e tome, cada vez mais, consciência crítica do papel qualitativo e norteador das políticas culturais que lhe são atribuídas.Contribuiremos na medida em que a semiologia do progresso cultural se evidenciar.
Um comentário:
Muito boa a abordagem. Os sginificados extraídos mostram uma sensibilidade bastante aguçada. Parabéns!
Postar um comentário